Criação de rádio contra comunistas “alienígenas” durante a ditadura teve denúncias de corrupção

Suspeitas de corrupção rondaram órgãos do governo federal nos anos 1970, durante a implantação do Sistema de Radiodifusão em Alta Potência. A iniciativa visava combater emissoras de países com regimes de esquerda, chamadas de alienígenas pelo Serviço Nacional de Informações (SNI). Um remanescente desse projeto é a Rádio Nacional da Amazônia, que completa 43 anos hoje (01/09/2020). É o que revelam documentos obtidos com exclusividade por RadioLab.

Delfim Netto, quando ministro da Fazenda, em 1973, teria sido alertado para o problema, mas, procurado para falar sobre o assunto, disse em conversa gravada por telefone não recordar dos fatos. Cópias de alguns dos documentos lhe haviam sido enviadas com antecedência por e-mail.

Em 1973, no governo de Emílio Garrastazu Médici, o ministro Delfim assinou, com a garantia da União, o pagamento do equivalente hoje a R$ 245 milhões para o empreendimento. Por estranho que pareça, à época a Rádio Nacional era uma responsabilidade do Ministério da Fazenda, pois fazia parte da Superintendência de Empresas Incorporadas ao Patrimônio Nacional (SEIPN), criada em 1940 por Getúlio Vargas. Em 1975, mudou o nome para CEIPN (C de Coordenadoria).

Voltando a 1973, um edital da licitação internacional previa a compra de potentes transmissores de rádio em ondas médias (hoje conhecidas como AM) e ondas curtas. Pela legislação, venceria a empresa que apresentasse a proposta mais barata, a não ser que houvesse justificativa em contrário.

O resultado foi para o extremo oposto. A empresa vencedora apresentou a proposta mais cara. A suíça Brown Boveri Corporation recebeu mais de 40 milhões de francos suíços, o equivalente hoje a R$ 245 milhões. Como se isso não bastasse, os equipamentos foram apontados, já à época, como obsoletos, com tecnologia dos anos 50.

Entre as empresas participantes da licitação, a proposta mais barata, e que, segundo a lei, deveria ter sido a vencedora, era a da estadunidense Gates. Cerca de 60% menos dispendiosa. Além de ser a mais barata, tinha também tecnologia mais avançada e menor consumo de energia, como relatam os documentos.

De fato, ao longo das décadas, verificou-se grande dificuldade na manutenção do sistema de ondas curtas, principalmente na obtenção de peças de reposição da empresa suíça, que, deixou de fabricar transmissores de rádio. De um total de seis transmissores, hoje só dois operam, pois com o tempo tiveram que ser canibalizados. Ou seja, tirava-se um equipamento do ar para poder colocar algumas peças em outro.

A proposta da Brown Boveri chegou ao cúmulo de oferecer produto da Gates mais caro do que a proposta desta. Ou seja, por não dispor de um determinado transmissor, “terceirizou” a licitação à Gates e o ofereceu por US$ 155 mil, quando a Gates, em sua proposta, cobrava US$ 100 mil. A Gates enviou ofício a Delfim Netto apontando a irregularidade, mas, ao que consta, não recebeu resposta.

Então, a grande pergunta que fica é: por que a Brown Boveri venceu essa licitação? Lembrando que a empresa está presente no Brasil desde a década de 50, onde forneceu equipamentos para grandes obras públicas, inclusive os geradores da usina hidrelétrica de Itaipu, os maiores do mundo até então, cuja construção começou por aqueles anos.

Sob o governo de Ernesto Geisel, em 3 de outubro de 1975, o SNI, então chefiado pelo general Newton Cruz, arrola uma sucessão de fatos que revelam suspeitas sobre o chefe da SEIPN, que em 1973 teria atuado em conjunto com o “Grupo Abdala” em “desvio de créditos abertos pelo governo anterior” (Médici) para a compra dos transmissores suíços.

No entanto, o documento sublinha que “nada foi apurado, até o presente, em desabono à conduta do senhor (nome tarjado), coordenador das Empresas Incorporadas ao Patrimônio Nacional”. Porém, mais adiante, o mesmo informe do SNI diz que “causa espécie o súbito aumento de vencimento do Sr. (nome tarjado) coordenador da SEIPN”.

O documento lista uma série de descasos na administração da Rádio e TV Nacional de Brasília, inclusive na implantação do Sistema de Radiodifusão em Alta Potência. “A complexidade dos problemas administrativos, advindos da criação do SISTEMA DE RADIODIFUSÃO EM ALTA POTÊNCIA, aliada aos subterfúgios usados pelas Administrações da TV RNB (TV e Rádio Nacional de Brasília) e SEIPN, no afã de mostrarem sua probidade administrativa … vem propiciando uma fraca atuação dos incumbidos de processar o assunto. Esses problemas … resultaram na elaboração de informações inócuas não permitindo uma avaliação precisa dos ilícitos que realmente vinham sendo praticados”. Até onde esses documentos revelam, não houve uma investigação mais aprofundada. Se ela existiu, não tive acesso.

Em outro texto, o SNI registra que o “grupo empresarial Abdala” é um possível beneficiário em desvio de verbas destinadas à compra de transmissores. Reprodução abaixo mostra relato do SNI apontando, entre os “dados conhecidos”, que 78% do dinheiro investido teria sido desviado para o “grupo Abdala do Rio de Janeiro”. J.J. Abdalla será assunto de próxima postagem.

A Rádio Nacional da Amazônia entrou no ar no dia 1º de setembro de 1977 e, portanto, completa 43 anos de operação neste 1º de setembro de 2020. Embora o Sistema de Rádio em Alta Potência tenha se iniciado no governo do general Emílio Garrastazu Médici, a Nacional da Amazônia, com esse nome, foi criada no governo do general Ernesto Geisel.

O sistema de rádio em alta potência gestado ainda no governo Médici tinha como uma das principais finalidades enfrentar as comunicações alienígenas, como eram chamadas pelos militares as rádios de ondas curtas de países comunistas ou socialistas, a exemplo da Rádio Tirana, da Albânia, Rádio Havana, de Cuba, Rádio Moscou, da então União Soviética, e a Rádio Internacional da China. Essas transmissões eram facilmente captadas em território brasileiro com programas em português. O termo alienígena é correto, embora a conotação preponderante hoje lhe dê um tom jocoso.

As emissões em ondas curtas, hoje praticamente desconhecidas da maioria da população, embora ainda existentes, mas em número bem menor, permitem captações de rádio a milhares de quilômetros de distância. Num mundo ainda sem internet, no século passado, era um meio de comunicação eficaz para o emissor e gratuito para o receptor. Bastava possuir um aparelho com essa faixa de onda, algo bastante acessível à maioria da população e comum àquela época.

Documentos guardados no Arquivo Nacional, em Brasília, mostram sérios questionamentos ao processo de compra dos caros transmissores para o Sistema de Rádio em Alta Potência. Esses papéis têm muitos nomes tarjados, não sendo possível, por enquanto, nominar muitos dos personagens. No entanto, mesmo não podendo identificá-los, é possível começar a trazer à tona um capítulo não revelado da história do Golpe de 1964.

Há quem diga que não existia corrupção no regime militar. Muitos casos, no entanto, já foram revelados. Outros tantos devem estar ocultos. Durante a ditadura, a imprensa vivia sob censura e intimidada para o seu pleno exercício. Após o fim do regime, houve destruição de materiais, mas boa quantidade foi levada aos arquivos oficiais. E documentos estão ainda hoje sob a guarda direta dos responsáveis ou seus herdeiros, até em suas casas ou fazendas.

Mais material será publicado em breve.

Lucio Haeser, para a RadioLab, 1º de setembro de 2020.

Na mira da privatização, EBC quer novos transmissores para implantar Rádio Nacional em todo o país

A Empresa Brasil de Comunicação (EBC) realizou pregão eletrônico para a compra de 10 transmissores de rádio em FM, um em AM e dois em ondas curtas. Além de renovar os atuais parques de transmissão das rádios Nacional e MEC, estão previstas sete novas rádios FM, sendo duas no Nordeste (uma delas em São Luís-MA) e uma para cada região: Norte, Centro-Oeste, Sudeste e Sul.

Além desses, há a previsão de um novo canal específico para o Rio, provavelmente uma Rádio Nacional em FM. Pode-se então especular que o outro canal do Sudeste será em São Paulo, onde já há a operação da TV Brasil, também da EBC. O total estimado a ser investido é de quase R$ 30 milhões.

O pregão eletrônico número 13/2020, realizado na última quinta-feira (13/08/20), faz parte do processo administrativo 1166, publicado originalmente em abril. Na época, o texto previa um transmissor em FM para a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, sendo que hoje a rádio opera somente no AM e não entrou com pedido de migração ao FM. Mais do que isso, chamou a atenção o fato de o canal destinado, 94,1 mHz, ser hoje ocupado pela Rádio Roquette Pinto, operada pelo estado do Rio, governado por Wilson Witzel, com quem a presidência da República tem tido relação atribulada. Na nova publicação não há definição de canal a ser utilizado.

No texto de abril, havia a previsão de três transmissores para a Região Sul (reduzido agora para um); e três para o Nordeste (reduzido para dois). No sentido contrário da diminuição de canais, houve o aumento nas potências anunciadas para os novos canais (veja tabela abaixo).

Todos os equipamentos a serem comprados deverão estar preparados para a implantação do rádio digital nos sistemas DRM ou HD Radio. Para a Rádio Nacional da Amazônia, a única que opera em ondas curtas, estão previstos dois transmissores de 100 kW. Na faixa de ondas curtas, o sistema DRM é a única opção no modo digital. A compra prevê potência de 100 kW, quando a emissora tem licença para operar com 250 kW em cada canal.

É fato que o alcance no modo digital necessita de bem menos potência para atingir a mesma área de cobertura, o que provocaria enorme economia de energia. No entanto, isso não quer dizer que haja sinais de que o atual governo pretenda se empenhar pela implantação do rádio digital.

Da mesma forma, a Rádio Nacional AM de Brasília tem previsão de compra de um equipamento de 100 kW para operação noturna, mas a sua licença de operação prevê a potência de 600 kW. Essa força toda era usada nos anos 70, quando, à noite, a rádio era captada em todo o país. Mas problemas técnicos e falta de peças de reposição foram precarizando os transmissores. A operação diurna é e sempre foi de 50 kW. Essa é uma parte da história.

Existe outro processo importante a ser lembrado. Há menos de três meses, em 21 de maio de 2020, a EBC foi qualificada para o programa de privatizações do governo. O Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) da presidência da República determinou a realização de estudos e a avaliação de alternativas de parcerias da EBC com a iniciativa privada, além de propor ganhos de eficiência e resultados para a empresa a fim de garantir a sua sustentabilidade econômica. O prazo para conclusão dos trabalhos é de seis meses, prorrogáveis pelo mesmo período.

Irá a EBC investir agora para logo em seguida ser privatizada? Só a idéia de privatizar a comunicação pública ou estatal já é absurda o suficiente. Mas a dúvida sincera que surge é: estão melhorando o produto para torná-lo mais atraente a possíveis investidores?

A Rádio Nacional já teve emissoras em diversos estados do Norte e Nordeste, mas a então Radiobrás se desfez das rádios durante o governo do presidente José Sarney. Canais do Rio e São Paulo também foram abandonados.

A implantação do rádio digital vem sendo debatida no Brasil desde os anos 1990. Enquanto a TV começou a ser digitalizada em 2008, para o rádio, após alguns testes mal feitos por volta de 2006, não houve escolha por nenhum padrão. Em vez de digitalizar o rádio, uma concessão foi feita ao setor em 2013, com o início do processo de migração das emissoras AM para o FM. A medida era reivindicada fortemente pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert). Na época, o ministro das Comunicações do governo Dilma era Paulo Bernardo, que avalizou o processo.

Não é demais recordar que a Constituição prevê a complementariedade entre os sistemas privado, estatal e público de radiodifusão. E a comunicação pública e muito menos a estatal têm o lucro como finalidade. Atender os povos do interior da Amazônia com uma rádio, por exemplo, não traz lucro, mas é de grande interesse para, no mínimo, 14 milhões de ribeirinhos. Para muitos deles, a onda curta da Rádio Nacional da Amazônia é o único meio de comunicação disponível.

A EBC foi criada em 2008, durante o governo Lula, incorporando os patrimônios, concessões e pessoal da Radiobrás (TVs Nacional de Brasília e São Luís, rádios Nacional do Rio, Brasília, Amazônia e Tabatinga, Agência Brasil e Radioagência Nacional), TVE do Rio e rádios MEC do Rio e de Brasília.

Na época, a intenção do governo Lula era, dando vida ao texto constitucional, tornar a EBC o embrião da comunicação pública no Brasil, com a participação da sociedade nas diretrizes das programações, organização de rede, entre outras iniciativas. Isto estava sendo feito. O foco era o cidadão.

No entanto, ao assumir a presidência, Michel Temer acabou com o conselho curador que ajudava a EBC a desempenhar a comunicação pública. Sem mencionar a absurda destituição do então presidente da empresa, Ricardo Melo, que tinha direito legítimo de seguir ocupando o cargo. De lá para cá, as coisas só pioraram. Radiodifusão estatal e pública voltaram a se misturar.

(Na foto, a torre da Rádio Nacional AM 980 de Brasília)

Transmissores a serem comprados pela EBC:

Emissoras já em funcionamento

  • Novo transmissor de 40 kW para a Nacional FM de Brasília
  • Dois novos transmissores de 100 kW em ondas curtas cada para a Rádio Nacional da Amazônia
  • Novo transmissor AM de 100 kW para a operação noturna da Rádio Nacional AM de Brasília.
  • Novo transmissor de 40 kW para a MEC FM do Rio
  • Novo transmissor de 10kW para a Rádio Nacional do Alto Solimões

Novas emissoras

  • FM de 35 kW no Rio
  • FM de 12 kW para a Rádio Nacional em São Luís
  • FM de 5 kW para a Região Norte
  • FM de 3 kW para a Região Nordeste
  • FM de 3 kW para a Região Centro-Oeste
  • FM de 30 kW para a Região Sudeste
  • FM de 20 kW para a Região SulNACIONAL AM 980

Dez anos. De volta à RadioLab

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Hoje, 1º de julho de 2020, faz 10 anos da primeira postagem do blog RadioLab. Os primeiros anos tiveram alguma produção. Depois, houve alguns retornos espasmódicos, mas sem continuidade. O que teve sequência foram as rádios continental1120.com, fruto de pesquisa histórica, e a radiocontato.xyz. Esta última incorporou a Rádio Paisagem, ambas fundadas em 2012, e a própria RadioLab, rádio surgida em 2015.

Então, fica assim: a Continental 1120 é o que sempre foi. Começou em julho de 2007 chamando-se Rádio Sem Fronteiras instalada no site continental1120.com para ser a trilha sonora do site que acompanhou a chegada do livro Continental – A Rádio Rebelde de Roberto Marinho, lançado pela Editora Insular em 2007, em Porto Alegre.

Nesse período, o site da 1120 já mudou umas cinco ou seis vezes de plataforma e acabamos perdendo o nosso histórico de publicações. Talvez elas estejam arquivadas em algum lugar. Não importa, vamos em frente. Em 2011, devido a uma parceria com Marcus Aurélio Wesendonk, ex-diretor da original Continental 1120 AM, a Rádio Sem Fronteiras tomou a coragem de assumir o nome Continental 1120. O objetivo é tocar só as músicas que rodaram, de fato, na 1120 e gravações históricas obtidas ao longo da pesquisa. Por algumas circunstâncias, a parceria não durou, mas a rádio segue.

A Rádio Contato é uma mistura e avanço do que pretendiam ser a Rádio Contato, a Rádio Paisagem e a RadioLab. Inicialmente, em 2012, a Rádio Contato só rodava música eletroacústica, e a Paisagem, paisagens sonoras.

Chego ao dia de hoje, 1º de julho de 2020, com os seguintes objetivos:

1 – A Continental 1120 vai muito bem, obrigado. É site, streaming de áudio 24/7, podcast e vídeos. Tem boa audiência no site continental1120.com e em diversas plataformas. Os materiais obtidos ao longo da pesquisa – entrevistas, documentos, fotos e áudios – estão sendo colocados na roda.

2 –  A Rádio Contato está recebendo atenção, mas ainda há muito por fazer para dar a feição que desejo. É streaming de áudio 24/7, ouvido em radiocontato.xyz. Tem um foco agora mais abrangente na programação musical, mas com alguns horários focados em segmentos específicos, como música eletrônica, experimental e paisagens sonoras. Falta conteúdo falado, o que será incorporado a partir de agora.

3 – RadioLab, que é este blog, iniciado há 10 anos. Música Som Histórias foi o slogan dele no início. E é assim que volta à ativa. Vou contar as histórias de sons (isso inclui o rádio) e músicas e até algumas coisas que não têm nada a ver com isso. Adoto o slogan do tempo em que a RadioLab foi streaming de áudio, entre 2015 e 2018: Sempre em Caráter Experimental.

É isso. Encerro aqui esse papo e parto para a ação. Atualizações a qualquer dia e horário. Agradeço a atenção.

Lucio Haeser. 1º de julho de 2020.

Há 10 anos, a primeira e única vítima de terremoto no Brasil

Há 10 anos, em 9 de dezembro de 2007, morreu a primeira e única vítima de terremoto no Brasil. A menina Jesiquele Oliveira da Silva, de 5 anos, foi atingida por uma parede de sua casa em Caraíbas, um distrito de Itacarambi (MG). Ela deixou uma irmã gêmea, que nos primeiros dias via-se perdida, pois dividia tudo com Jesiquele e vice-versa.

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O terremoto atingiu 4,9 na escala Richter. As 76 casas da comunidade rural de Caraíbas foram abandonadas e os cerca de 260 moradores, transferidos para um bairro da região urbana do município.

A poucos quilômetros de Caraíbas, fica o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, principal atração turística da região. A terra vinha tremendo desde o início de 2007 em Itacarambi, tanto que o Observatório Sismológico da UnB havia instalado equipamentos para monitorar a região. Poucos meses depois, outro forte tremor foi registrado em Caraíbas, colocando abaixo o que ainda restava das casas.

Com gerador, Rádio Nacional da Amazônia volta a transmitir

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Gerador utilizado pela EBC para a retomada provisória da Rádio Nacional da Amazônia

Depois de quase oito meses – e ainda em fase de ajustes do gerador de energia – a Rádio Nacional da Amazônia voltou a transmitir na última quinta-feira (16.11.2017). Por enquanto, as transmissões estão sendo feitas durante algumas horas ao dia e apenas na frequência de 11.780 kHz (25 metros). O canal em 6.180 kHz (49 metros) deve começar a ser testado na segunda-feira (20.11).

A potência utilizada está reduzida a 70 kW, o suficiente para o sinal já ter sido reportado por ouvintes em algumas regiões do país. A Nacional da Amazônia é o principal – muitas vezes, o único – meio de acesso à informação para 6,5 milhões de ribeirinhos da Região Norte, além de ouvintes em todo o país e no mundo.

Nos últimos anos a emissora vinha transmitindo com 180 kW em cada canal, quando tem concessão para 250 kW em cada um. Isso se deve à deterioração dos equipamentos, que vêm sendo canibalizados.

Esta é uma solução provisória, uma vez que o conserto da subestação, conforme informado à RadioLab pela Ouvidoria da EBC, tem custo estimado de R$ 4 milhões, recursos ainda não disponíveis.

A subestação de energia que abastecia os dois transmissores foi atingida e incendiada por raios na noite de 20 de março passado e, desde então, a emissora estava fora do ar. Enquanto a subestação não é definitivamente consertada, a energia está sendo provida por um gerador próprio da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), responsável, entre outras emissoras, pela Rádio Nacional da Amazônia.

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Subestação da Rádio Nacional da Amazônia atingida por raios está desativada desde março de 2017

Exclusivo: Radio Caroline conclui instalação de transmissor legal

A mítica rádio pirata britânica Caroline conclui amanhã (01/11/2017) a instalação do seu transmissor em AM 648 kHz, agora autorizada pelo órgão de regulação do país, o Ofcom. Detalhe e ironia da história: 648 kHz era uma frequência utilizada até 2011 pela BBC, que tanto lutou contra a Radio Caroline nos anos 60.

A informação nos foi passada por Peter Moore, diretor da Caroline, que lá atua desde 1978. Depois da instalação do transmissor de 1 kW, será definido um período de testes. Segundo Peter Moore, a localização ainda é mantida em sigilo a pedido do dono do terreno onde a antena está sendo instalada.

A Radio Caroline iniciou suas operações em 1964 em alto-mar – para fugir à legislação por estar em águas internacionais – para oferecer rock aos ouvintes ingleses que viviam confinados à emissora pública BBC, que tinha apenas uma hora por semana dedicada ao gênero. A emissora foi tema do filme The Boat That Rocked (no Brasil chamou-se Os Piratas do Rock), lançado em 2009.

Mais informações nos próximos dias.

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Depois de meio ano, EBC anuncia solução provisória para Rádio Nacional da Amazônia

(Post originalmente publicado em 26/09/2017 na plataforma anterior e que, por um lapso, deixou de ser transcrito para a atual)

Depois de seis meses fora do ar, a direção da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) anunciou nesta terça-feira (26/09/17) uma solução provisória para a retomada das transmissões da Rádio Nacional da Amazônia. Segundo a EBC, a rádio volta ao ar em no máximo dois meses, ou seja, até o final de novembro.

A emissora é o principal meio de comunicação das comunidades ribeirinhas da Região Norte, um contingente de, no mínimo, 6 milhões de pessoas. No dia 20 de março passado, raios atingiram a estação de energia (veja fotos) que alimenta os dois potentes transmissores da emissora e, deste então, as transmissões se mantinham apenas pela internet ou por satélite, o que não atende à maioria dos ouvintes do interior da Amazônia.

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Em questionamento que fizemos à direção da empresa, fomos informados que os custos para recuperação da subestação estariam na casa dos R$ 4 milhões.

Nesta terça-feira, no entanto, foi anunciado que inicialmente será adotada uma solução alternativa. Um dos geradores de energia que atende ao transmissor de ondas médias em outra região de Brasília será levado para o Parque do Rodeador, onde estão os transmissores da Rádio Nacional da Amazônia.

A emissora completou 40 anos de atividades no último dia 1º de setembro fora do ar. Havia uma transmissão simbólica de 100 watts, mas que não podia ser efetivamente captada por ninguém pois, para se ter uma ideia da insignificância dessa potência, a rádio é autorizada a transmitir com 250 mil watts.

Importante lembrar que rádios e TVs que deixarem de transmitir dentro dos devidos parâmetros técnicos aprovados pelo Ministério das Comunicações podem ter suas outorgas cassadas.  Várias emissoras brasileiras que possuem canais em ondas curtas abandonaram as transmissões nos últimos anos.

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A notícia foi divulgada pela Agência Brasil, da EBC, às 12:45 desta terça-feira (26.09.2017). Diz o texto:

“A Empresa Brasil de Comunicação (EBC) encontrou uma solução de baixo custo para retomar a transmissão plena da Rádio Nacional da Amazônia em no máximo 60 dias. Diante dos cortes orçamentários impostos pela crise ao conjunto da administração pública federal, a direção da empresa reuniu engenheiros especializados de seu quadro funcional em um grupo de trabalho (GT), para buscar uma alternativa à onerosa recuperação do parque de transmissão.

O grupo de trabalho foi constituído para responder, com criatividade, ao desafio de apresentar uma saída que coubesse dentro do orçamento da empresa. Dentre o conjunto de alternativas analisadas pelo GT, a direção da empresa optou pela solução emergencial que implica gasto imediato de apenas R$ 20 mil, com custo de manutenção da ordem de R$ 60 mil mensais. A solução definitiva de menor custo ficará em torno de R$ 980 mil.

As propostas que surgiram antes da criação do GT não se mostraram viáveis em razão do alto custo, que variava entre R$ 2,5 milhões e mais de R$ 6 milhões. Desde 20 de março, quando uma tempestade de raios em Brasília atingiu a subestação do parque transmissor, o sinal da Rádio Nacional da Amazônia deixou de cobrir a região Norte, em toda sua extensão.Para que a opção mais barata seja implantada, o caminho é transferir para o Parque Transmissor um dos três grupos geradores que compõem o sistema de energia emergencial da Rádio Nacional e da TV Brasil. A retirada de um único grupo gerador não compromete a capacidade do sistema, que ainda contará com dois grupos reserva.

A solução emergencial é resultado do empenho conjunto da direção e do corpo técnico da EBC, cientes da importância da emissora para o país e, em especial, para as comunidades isoladas da região amazônica. Tão logo as condições financeiras permitam, a engenharia dará sequência à solução definitiva, com a recuperação da subestação.”

Ribeirinhos e indígenas repudiam desativação da Rádio Nacional da Amazônia

CARTA_RNAPara quem mora na cidade, é difícil imaginar viver sem ser bombardeado por novas informações a cada segundo. No entanto, em uma vasta região do país, a Amazônia, há populações que vivem isoladas, sem telefone e internet. São os povos ribeirinhos e aldeias indígenas que, somados, alcançam uma respeitável população de seis milhões de habitantes.

 Até pouco tempo, o principal veículo de comunicação que abastecia esses brasileiros com informações  era a Rádio Nacional da Amazônia, que transmite em ondas curtas direto de Brasília, onde uma equipe de jornalistas, radialistas e técnicos fornece informações voltadas especificamente àquele público. A rádio pertence à Empresa Brasil de Comunicação (EBC), organização pública que em 2008 sucedeu a antiga estatal Radiobrás.

A Rádio Nacional da Amazônia já vem sofrendo há muitos anos problemas de manutenção, principalmente nos transmissores de ondas curtas nas frequências de 6180 e 11780 kHz, em 49 e 25 metros, respectivamente. A plena capacidade, de 250 kW em cada canal, já estava reduzida para 180 kW há muito tempo. Muitas vezes, um canal saía do ar, mas pelo menos o outro seguia em funcionamento.

No entanto, a situação nunca foi tão grave como agora. Em 20 de março deste ano, há mais de cinco meses, portanto, raios atingiram a subestação que abastece de energia elétrica o Parque do Rodeador, a 50 quilômetros do centro de Brasília, onde estão as antenas voltadas à Região Norte do país. Até agora, nenhuma providência prática foi tomada para reparar os danos. A transmissão foi mantida apenas na internet e via satélite, para quem possui antena parabólica. Mas o povo do interior da Amazônia se liga mesmo na rádio é por meio do velho rádio de pilhas. 

Os ouvintes, sentindo-se abandonados, começaram a reclamar nos programas em que há a participação ao vivo por telefone. Em maio, uma manifestação de repúdio à desativação da emissora foi enviada por 15 lideranças de ribeirinhos e indígenas à direção da EBC, com cópias à Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República e à equipe da rádio. (Veja a reprodução acima.) No entanto, a direção da EBC permanece muda sobre o assunto.

Confira a lista de entidades cujas lideranças assinaram a carta à EBC
  • Associação de Moradores da Reserva Extrativista Riozinho do Anfrísio
  • Associação de Moradores da Reserva Extrativista Rio Iriri
  • Conselho Ribeirinho de Belo Monte – Altamira
  • Associação Indígena Pyjahyry Xipaya
  • Associação Indígena Tukaya Etnia Xypaya
  • Associação Sementes da Floresta
  • Povo Arara da Cachoeira Seca
  • Povo Xikrin do Bacajá
  • Povo Kuruaya
  • Parakanã da Terra Indígena Apyterewa
  • Associação Remanescente de Quilombolas de Oriximiná
  • Associação para o Desenvolvimento da Agricultura Familiar do Alto Xingu
  • Cooperativa Alternativa Mista dos Pequenos Produtores do Alto Xingu
  • Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola
  • Instituto Kabu (Povo Kayapó Mekrangnoti)
  • Associação Floresta Protegida (Povo Kayapó Terra Indígena Kayapó)
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